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A Ordem DeMolay americana nos dias atuais

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Miguel Ângelo Volpato

Uma análise a partir da monografia "The Origin and Development of a Secret Society", de John K. Rhoads.

Na foto, uma visita minha feita ao Capítulo Mississauga, em Ontário, no Canadá, em 2022. Apesar de possuir um Supremo Conselho independente, o DeMolay Canada ainda é muito fortemente ligado ao DeMolay International. Fui muito bem recebido lá. Foi uma ótima experiência.


Existe quase que uma mística ao redor da Ordem DeMolay americana. O que é? Como funciona? De nossas terras tupiniquins, é de fato difícil ter uma noção de como funcionam as coisas na Ordem DeMolay dos Estados Unidos. Tendo isso em vista, este artigo, muito mais analítico do que aqueles anteriormente publicados, deseja lançar um pouco de luz acerca das práticas de nossos irmãos norte-americanos.


Primeiramente, é essencial definir o nosso escopo. O que queremos compreender?


Existem alguns jargões clássicos referentes ao DeMolay International. “Eles usam capas coloridas”, “lá pode usar tênis na reunião”, “a Iniciação aos Graus Iniciático e DeMolay ocorre no mesmo dia”. Tudo isso é verdade. A Ordem DeMolay dos Estados Unidos é uma instituição claramente comunitária, o que pode ser percebido por qualquer brasileiro que lá tenha frequentado uma reunião. É quase como um encontro dos jovens da comunidade. Não é isso, entretanto, que buscaremos elucidar.


Nosso escopo será dividido em duas principais frentes: uma análise da estrutura da Ordem DeMolay internacional e outra análise da adesão atual à instituição na terra do Tio Sam. Muito se repete sobre o declínio da Ordem DeMolay americana e seus reflexos, mas pouco se compreende verdadeiramente.


Estrutura


Nos Estados Unidos, existe certa variedade quanto à administração a nível estadual. Em alguns estados, a organização é mais sofisticada, compreendendo comissões e inúmeras subdivisões. Em outros, é realmente simples. No geral, cada estado possui um Oficial Executivo, que é nomeado, e não eleito. Cada jurisdição possui também um Mestre Conselheiro Estadual, que é eleito e delibera no Congresso Internacional da Ordem DeMolay, sobre o qual falaremos mais adiante.


O nível nacional (e por consequência internacional, já que existem regiões filiadas em outros países que participam do DeMolay International) é regido pelo Supremo Conselho Internacional, que é a entidade máxima na hierarquia da instituição. Ele é sempre composto por 150 (cento e cinquenta) membros e contém um corpo diretor formado por 19 (dezenove) pessoas, as quais devem ser eleitas de forma unânime. No geral, seus membros são divididos em 4 (quatro) classes, subdivididas com base nos seus direitos de voz e voto no Congresso.


Mas o que é o Congresso Internacional? Segundo o Sênior DeMolay brasileiro Alan Kelvin, membro ativo do DeMolay International, “o Congresso DeMolay, ou Gabinete Internacional da Ordem DeMolay, é o órgão estilo Senado onde dois delegados votantes representam cada Jurisdição. Os delegados se reúnem uma vez por ano e elegem um Mestre Conselheiro Internacional e um Secretário do Congresso Internacional, os quais lideram e servem como chefes do corpo por um período de um ano”. Lá são deliberados, ainda, outros assuntos pertinentes à Ordem DeMolay americana e às demais oficialarias.


No mais, vale destacar também que o órgão é dividido em 10 (dez) regiões: Região I = Connecticut, Maine, Massachusetts, Nova Hampshire, Rhode Island e Vermont. Região II = Delaware, Maryland, Nova Jérsei, Nova Iorque, Pensilvânia, Virgínia e Distrito de Colúmbia. Região III = Alabama, Flórida, Geórgia, Mississippi, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Tennessee. Região IV = Illinois, Indiana, Kentucky, Michigan, Ohio e Virgínia Ocidental. Região V = Iowa, Minnesota, Nebraska, Dakota do Norte, Dakota do Sul e Wisconsin. Região VI = Arkansas, Kansas, Louisiana, Oklahoma e Texas. Região VII = Arizona, Colorado, Montana, Novo México, Utah e Wyoming. Região VIII = Alaska, Idaho, Norte da Califórnia, Oregon, Sul da Califórnia e Washington. Região IX = Aruba, Bolívia, Peru, Panamá, Paraguai, e Uruguai e Região X = Alemanha, Itália, Romênia, Sérvia e França.


“Mas e o Brasil?”, vocês perguntam. O Brasil, assim como a Austrália, o Canadá e as Filipinas, possui um Supremo Conselho próprio e, portanto, não está sob autoridade direta do Supremo Conselho Internacional.


Aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos podem acessar ao blog de Alan Kelvin, Soberanos Ideais, cujo link é: https://soberanosideais.com.br/blog/.


Adesão


Muito se escuta sobre os problemas de adesão na Ordem DeMolay dos Estados Unidos. O que é verdade e o que é mentira? Bem, verdade é que existe de fato um problema expressivo na Ordem DeMolay americana atual quanto a membros.


No livro “Hi, Dad!”, de Herbert E. Duncan, muito se lê sobre os estrondosos primeiros anos da Ordem DeMolay dos Estados Unidos. Nada daquilo que está escrito naquelas páginas é falso, mas existe um porém. O leitor é induzido, por sua mera presunção, a acreditar que aquele crescimento acelerado continuou exponencialmente, formando uma instituição de milhões de indivíduos. Isso não aconteceu.


Em 1923 a Ordem DeMolay possuía 101.000 (cento e um mil) membros, número realmente impressionante para uma instituição que possuía apenas 4 (quatro) anos. Em 1955 o número havia crescido até 120.000 (cento e vinte mil) meninos. Em 1966 a Ordem chegou à sua maior expressão no país, com 160.000 (cento e sessenta mil) garotos. Daquele ano em diante, a adesão caiu em taxas enormes. No ano de 2000, sobraram menos de 20.000 (vinte mil) DeMolays no país. O que aconteceu?


Alguns atribuem esse declínio aos anos 60 (sessenta) e a uma geração de jovens mundanos e pouco idealistas. Outros acreditam que fraternidades não convinham mais para os adolescentes. Outros acham que simplesmente “saiu de moda”. O motivo, entretanto, segundo o trabalho mais detalhado sobre a Ordem DeMolay ao qual se é possível ter acesso, a monografia de doutorado de John K. Rhoads, aponta uma razão diferente: má administração.


Após a conquista de milhares de jovens nos anos primários, a Ordem sofreu um lento enfraquecimento. Católicos e Luteranos não simpatizavam culturalmente com a maçonaria americana. No fim, havia pouco espaço para expansão, e até mesmo dentre aqueles que mais poderiam participar (filhos de maçons, em especial) a vontade era pequena. Segundo Rhoads, alguns

motivos se destacam:


1.      Os membros não compreendiam ao certo a instituição.


Segundo Rhoads, um dos maiores problemas da Ordem DeMolay nos Estados Unidos era de que os membros simplesmente não compreendiam a organização da instituição. Em entrevista realizada com DeMolays e Maçons pelo próprio autor, apenas metade acreditava que o Ritual era parte essencial da Ordem DeMolay, e a maioria não compreendia os projetos do Supremo Conselho. No fim, segundo o autor, a Ordem se tornou um clube habitual de ensino médio, como qualquer outro, e não uma fraternidade baseada nos valores das 7 (sete) Virtudes Cardeais.


2.      Questões na administração.


Rhoads destaca também uma grande desconfiança ante o papel desempenhado por alguns membros da equipe de Land. Segundo ele, Land, extremamente adorado pelos seus esforços, era uma figura que por vezes parecia sozinha na luta pela manutenção da Ordem DeMolay. Alguns membros do staff, quando perguntados, sequer sabiam a história da instituição, os ideais, e as vezes até discordavam dos valores das Virtudes Cardeais. Problemas financeiros no Supremo Conselho Internacional também eram frequentes.


3.      Indiferença quanto à instituição.


Motivo menor, o autor não deixou de citar também que existia certa indiferença por parte das lideranças maçônicas. Estes frequentemente não conheciam os valores a história da instituição, vendo como sua responsabilidade apenas participar dos encontros.


4.      O fator idade.


A questão da idade, na Ordem DeMolay, já gerou inúmeras discussões. O fato é que a diferença inicialmente vista com bons olhos se tornou um verdadeiro empecilho com o tempo. Criou-se uma grande diferença de idade entre os jovens, que frequentemente levava a mais discordâncias do que aproximação.


MENSAGEM FINAL


Embora a Ordem DeMolay americana se encontre fragilizada em alguns lugares, tem-se que a Ordem DeMolay brasileira está mais forte do que nunca, com mais de 110.000 (cento e dez mil) membros ativos cadastrados nos últimos 14 (quatorze) anos. O povo brasileiro parece ter uma afinidade especial para com tudo o que foi proposto por Frank Sherman Land, e o legado da instituição se faz muito vivo em um lugar que o nosso fundador sequer poderia imaginar.


Assim, com este artigo, chegamos ao fim dos trabalhos na Secretaria de Ritualística do Gabinete Estadual “Dever e União”. Eu, Miguel, agradeço de coração a cada um que acompanhou nossos artigos e demais projetos. Gostaria de fazer mais, mas ao olhar o retrospecto percebo que muitos pontos altos nós alcançamos ao longo deste ano, e este Blog foi um deles. Agradecimento especial aos Estaduais, Victor e Kauê, ao Rhuan e ao Felipe, assessores de nossa secretaria, e ao Rafael, nosso Secretário-Geral, que não mediram esforços para me ajudar tanto quanto precisei. Um forte abraço a todos!


Referências

RHOADES, John. DeMolay: The Origin and Development of a Secret Society. 1960. 263f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Universidade de Wisconsin, Estados Unidos.

Kelvin, Alan. Conhecendo o DeMolay Internacional - Parte 2. Blog Soberanos Ideais, oito de agosto de 2022. Disponível em: <https://soberanosideais.com.br/blog/2022/08/conhecendo-o-demolay-internacional-parte-2/>. Acesso em: quinze de agosto de 2024

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