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A História da Ordem DeMolay em Santa Catarina

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Miguel Ângelo Volpato e Felipe Augusto de Sousa

Uma pesquisa inédita, aprofundada e confiável acerca de como foram os primeiros passos da instituição em nosso estado.

Uma identidade, seja ela nacional, cultural ou étnica, é a memória viva das grandes marcas alcançadas por um determinado grupo, reconhecendo-se como um autor vivo e original, capaz de influenciar o seu entorno. Ela é um dos principais fatores que influenciam na chamada “cosmovisão” de  um indivíduo (aqui, no sentido do conjunto de valores abstratos que regem o modus vivendi de uma pessoa e influenciam sobre como ela se relaciona com o mundo a sua volta), pois oferece fortes padrões pessoais que, indubitavelmente, estão presentes no julgamento do mundo em sua maneira subjetiva. Dessa forma, é muito por meio dessa identidade que um indivíduo é capaz de racionalizar o seu entorno, e por conseguinte ela serve como uma fundação onde ele é capaz de, tendo em vista a vivência e os aprendizados de seus antepassados, construir um futuro melhor.



Diante disso, decidimos trazer um artigo com uma temática muito especial para este mês: A História da Ordem DeMolay em Santa Catarina, pesquisa até então inédita, que tem por finalidade não permitir que grandes acontecimentos caiam no esquecimento. Este material foi elaborado com o auxílio dos Past Grandes Mestres Estaduais Guilherme Alexandre Ferreira e Ives Augusto Effting; além do primeiro Mestre Conselheiro e primeiro Mestre Conselheiro Estadual de Santa Catarina, Dieter Alan Miers, que hoje é “Chapter Dad” no capítulo Beamten na Alemanha (DeMolay Deutschland) e foi extremamente atencioso e solícito em auxiliar na produção deste conteúdo, enviando-nos inúmeras de suas lembranças, documentos e, especialmente, atendendo a Secretaria de Ritualística por um bate-papo de quase duas horas.


Aprofundando acerca deste último, Tio Dieter Miers nasceu em São Miguel do Oeste. Descendente de alemães, mudou-se para Joinville, onde cresceu e passou sua juventude. Segundo ele, sempre foi muito ativo e curioso, participando por muitos anos do escotismo joinvillense; além de ser extremamente interessado por temas místicos, o que conta que o auxiliou na Ordem DeMolay. Certo dia, seu pai subitamente comentou acerca da fundação de um novo grupo de jovens na cidade, o qual seria patrocinado pela Maçonaria. Devido a seu interesse em temas esotéricos e também a seu conhecimento acerca do patrocínio maçônico voltado aos Escoteiros, logo ele se interessou pelo novo grupo.


Vale uma pequena pausa para tratarmos sobre como chegamos até aqui. Na metade da década de 1980, o Tio Alberto Mansur, presumidamente conhecido a todos que leem esse artigo, liderava o Supremo Conselho recém formado no país em grande campanha ao redor do Brasil para divulgar a Ordem. Mansur, que já havia ocupado uma relevante posição na Maçonaria nacional como Soberano Grande Comendador, havia deixado o cargo para se tornar Grande Mestre Nacional e encabeçar os esforços de divulgação. Foi nesse contexto que, no ano de 1985, ele esteve presente no evento “Dia do Maçom” em Criciúma. O resultado foi excelente, com os Maçons de Joinville se interessando muito e se encarregando de dar os alicerces para trazer a instituição para o estado de Santa Catarina.


Assim, voltamos ao cenário inicial com o Tio Dieter Miers, onde os rapazes começaram a ser selecionados e os primeiros trabalhos burocráticos começaram a ser executados. Em especial, é valido assinalar que logo após a fundação, foi elaborado um grande Conselho Consultivo, contando com membros de quase todas as Lojas Maçônicas da cidade, que se encarregou de organizar o grupo dos ativos para que a Instalação do Capítulo ocorresse em um ano. Ainda nesse ínterim, é interessante constatar que era tamanha a determinação da Maçonaria joinvillense para com o objetivo de incorporar a Ordem DeMolay ao município, que foi uma das primeiras vezes em que todas as potências maçônicas do estado se uniram em prol de um objetivo.


Após a primeira filtragem dos candidatos à Iniciação, aquele que foi o primeiro evento propriamente DeMolay do estado de Santa Catarina aconteceu: um encontro de trinta e três jovens para a realização de uma dinâmica em que foram discutidos temas pertinentes à juventude entre diferentes grupos. Essa dinâmica tinha como objetivo principalmente unir os garotos para que se conhecessem e avaliar seu trabalho em equipe, já imaginando a nomeação dos futuros Conselheiros. Na ocasião, o Tio Dieter, que viria a ser o primeiro Mestre Conselheiro, acabou por logo se destacar devido a sua habilidade de liderança e principalmente por estar desempenhando, na faculdade de Biologia da FURB (Universidade Regional de Blumenau), um trabalho sobre o mesmo tema que foi sorteado na dinâmica: “os malefícios e a natureza de drogas ilegais”. Ao final da tarde os rapazes apresentaram os seus trabalhos para uma plateia composta por seus pais e pelos tios das Lojas joinvillenses, tendo a oportunidade ainda de conhecer posteriormente o templo maçônico da cidade.


Os meses se passaram e nada foi realizado além da burocracia, com a Ordem DeMolay permanecendo ainda um mistério para os candidatos. No mês de junho de 1986, Dieter Miers recebeu uma ligação do Tio Álvaro Dippold Júnior, então Oficial Executivo e o principal Maçom responsável pelo processo de fundação da instituição em Santa Catarina, informando-o de que seria o primeiro Mestre Conselheiro do Capítulo Joinville. Segundo seu relato, foi uma situação muito cômica, pois ao mesmo tempo que precisava estudar e decorar inúmeros estatutos, a história da Ordem e a sua administração, não tinha acesso aos rituais e não tinha como conhecer completamente a instituição.


A tão esperada Instalação ocorreu no dia primeiro de agosto daquele mesmo ano. Na ocasião, um grande evento foi elaborado, com convidados das mais abrangentes potências maçônicas do estado participando. Para realizar a Cerimônia, os irmãos do Capítulo Campo Mourão, do Paraná, deslocaram-se por nove horas de ônibus. Além disso, fizeram-se presentes o então Mestre Conselheiro Nacional,  Carlos Monjardim, e o próprio Alberto Mansur. Curiosamente,  na noite anterior à Instalação, Monjardim e Dieter foram jantar. O carro que levava acabou ficando sem gasolina, e, como resultado, chegaram em casa apenas de madrugada para descansar para o evento que se iniciaria cedo no dia seguinte.


No período da manhã, assim que chegaram de viagem, os visitantes foram saudados pelos joinvillenses, que prepararam faixas e outras configurações receptivas. Posteriormente, deslocaram-se para o templo no qual foram realizadas, respectivamente, as Cerimônias de Iniciação aos Graus Iniciático, DeMolay, Instalação de Oficiais e, por último, as Cerimônias das Flores e da Luz. Segundo o relato do primeiro Mestre Conselheiro de Santa Catarina, foi um grande evento, estendendo-se por cerca de doze horas e, enfim, ao final daquele dia, a Ordem DeMolay catarinense estava definitivamente em funcionamento.


A partir da Instalação, o Capítulo Joinville muito contribuiu para com a expansão da instituição. Logo no primeiro ano foram fundados e instalados mais três Capítulos em Santa Catarina: Lages, Florianópolis e Vale do Itajaí, que também fundaram novas organizações e auxiliaram na proliferação da Ordem no estado. Dieter ainda serviu como Mestre Conselheiro Estadual, sendo o primeiro do estado, sucedido pelos irmãos Ofson Gomes da Silva, Julio César Kutne e André Paim. Em 1989, iniciou-se a prática de realizar o Congresso Estadual, do qual Blumenau foi sede naquela oportunidade.


A partir dali, a Ordem DeMolay se solidificou em Santa Catarina. Alguns dos outros acontecimentos notáveis nos anos subsequentes foram a instauração da Ordem da Cavalaria em  Santa Catarina, no ano de  1993, sendo uma das primeiras do país e contribuindo com a difusão nos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No mesmo ano, também foi fundada uma Associação de Seniores no estado.


Assim, chegamos ao final deste material a respeito da chegada da Ordem DeMolay à Santa Catarina. No último artigo citamos como o Tio Frank Sherman Land, em seu esforço pela instituição, doou grande parte de sua vida em prol da inspiração da juventude. Aqui encontramos pessoas que ainda estão para contar os seus esforços. Dieter Miers, Ofson Gomes, Alberto Mansur, Álvaro Dippold, Carlos Monjardin. Essas pessoas que não recuaram diante da oportunidade de fazer algo significativo pela sua comunidade, que mesmo com as adversidades e dificuldades, não recuaram diante delas. Como no ciclo do herói de Joseph Campbell, passaram por suas provações até entrar em sintonia com o Pai, e assim foram capazes de apesar de suas condições nem sempre favoráveis, deixar um legado, e por isso devem servir como identidade e exemplo para todos os que a partir das fundações seguirão os seus esforços.


“A história merece ser contada, pela sorte, pela providência, pela virtude, ou por todas elas. Chegamos até aqui, nossa trajetória tem nome, e cada vez que olhamos para trás, lembramos de cada personagem que construiu o palco de nossas vidas. Temos a oportunidade de escolher as nossas referências, aprender com os nossos erros e elevar a nossa moral. Em algum lugar sempre haverá o panteão daqueles que nos trouxeram até aqui, lá estão as paixões, os méritos, os sacríficos, e todo o heroísmo da sociedade. Não foi fácil. (...)Sempre que estivermos perdidos, e sem saber para onde ir, eles estarão lá, de braços abertos, para nos contar tudo que sacrificaram para dar um passo além daquilo que parecia possível. Não se trata apenas de não esquecer de onde viemos, trata-se de saber para onde estamos indo.”

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